Contra
bons argumentos...
Claudiomiro
Machado Ferreira
Não adianta, existem argumentos
que são irrefutáveis. Diante deles não podemos fazer nada, a não ser nos
entregarmos. Tive certeza disso no dia em que fui vencido pelo chá verde.
Um dia desses, por questões, que
prefiro manter em sigilo, havia tomado o tal chá verde. Ele é bom para muitas
coisas, me disseram. Isso é fato, aprendi. Porém, se bebido além do necessário
pode eliminar sais minerais do organismo. Os sintomas são uma espécie de
fraqueza e a abertura de apetite. Para alguns, esta é mais conhecida por broca,
aquela fome que, além de fazer um alto barulho no estômago, faz a gente se
curvar de dor.
Pois bem, estava eu com aquela
baita broca e, para variar, em uma condição deveras adversa. Voltava da cidade
de Pedro Osório, indo para a cidade de Rio Grande. Como não há ônibus direto,
sou obrigado a fazer uma parada na rodoviária da cidade de Pelotas.
Como desgraça pouca é bobagem,
depois de comprar a passagem e sobrar pouco dinheiro, ocorreu o sucedido. Não
tive alternativa. Fui obrigado a ir até um dos bares. Na verdade o único aberto
naquela hora da noite. O que aconteceu em seguida me fez constatar que já se
foi o tempo em que comida de rodoviária era barata. Na verdade, hoje em dia
elas competem com muitos aeroportos e shopping
centers.
Eu sabia que precisava de algo
salgado para comer. Olhei, olhei, fiz cálculos de cabeça, mas a broca não me
deixou pensar muito. Acabei pegando o que era mais barato e que melhor se
encaixava na minha necessidade. Peguei um pacote de batata fritas da Elma
Chips. Um Ruffles, de 50 gramas.
Ao chegar no caixa tive o
dissabor. O pacote custava R$3,20. Quase tudo o que me sobrara da compra da
passagem. Claro que fiquei irritado. Estava com fome, o ônibus já iria sair e
com pouco dinheiro. Qualquer um ficaria. Tentei barganhar, mas o atendente foi
inflexível. Disse que o preço era tabelado, que não havia nada mais barato e
que ele não era o dono do estabelecimento.
Entretanto, o argumento
derradeiro veio quando disse que se estivesse muito caro eu poderia escolher
por não levar. Estarreci. Fiquei mudo. Sem um contra-argumento paguei e fui
embora. Mudo, comi a batata e saciei a minha necessidade. Porém, aprendi a lição.
Da próxima vez tomarei menos chá verde. Se não der, tentarei viajar com mais
dinheiro. Ainda sim, se nada disso for possível, para não passar mais vergonha,
direi que estou com pressão baixa e pedirei um copo d'àgua e o saleiro. É o
jeito.
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